Existem duas características semelhantes entre as bolhas de sabão e as bolhas que se formam nos mercados accionistas: ambas são transparentes e quando rebentam, quem está por baixo é que fica encharcado. Ora de água, ora de prejuízos.
Depois da proliferação das empresas tecnológicas no final da década de 1990 e que terminou com a bolha das
dotcom em 2001, a
KPMG vem agora alertar os investidores para o risco de se estar a formar uma nova vaga especulativa no mercado accionista: uma bolha verde centrada nas energias renováveis.
Segundo a consultora, depois de em 2007 se ter assistido a um
boom de fusões e aquisições no sector das energias renováveis e que culminou com uma cifra estimada de 35,8 mil milhões de euros - 47 por cento superior a 2006 -, é esperado que esta vaga de consolidação no sector perdure ao longo do ano. Porém, isso só deverá acontecer porque “
alguns players do mercado parecem ignorar os vários riscos que envolve o investimento em renováveis, como é a habilidade que os governos têm para mudarem de uma hora para a outra as suas políticas de energia verde”, revela a KPMG num relatório sobre as energias renováveis intitulado de “
Turning up the heat”.
Para os investidores que estão de olho na oferta pública de venda da
EDP Renováveis, estes são sinais de que nem tudo o que brilha é ouro. Antes de tomar qualquer decisão é preciso contabilizar os prós e contras do investimento. E para isso, é preciso ler o
prospecto de oferta pública de subscrição e de admissão à negociação das acções para se ficar a saber que a EDP Renováveis pretende utilizar os cerca de 1 780,9 milhões de euros, que estima receber da operação, não apenas para financiar a estratégia de negócio da EDP Renováveis mas também para proceder ao reembolso de grande parte da dívida contraída junto do Grupo EDP que, em 31 de Março de 2008, era de 2 375,6 milhões de euros.
Por vezes, a célebre frase follow the trend, the trend is your friend (segue a tendência, a tendência é tua amiga) pode até revelar-se proveitosa no curto prazo mas, como reza a história, mais tarde ou mais cedo essa tendência acaba sempre por ceder. Por isso, de duas uma: ou se evita correr o risco de embarcar numa bolha especulativa ou então, lança-se à sorte e espera-se que quando ela rebentar já se esteja fora do raio de acção dos salpicos. Luís Leitão
A aquecer
Durante o último ano a única regra dos accionistas destas empresas era somente uma: comprar sem olhar a números. E hoje, haverá alguém que queira continuar a seguir essa regra?
Empresa | Preço | P/L | P/VC | Rendibilidade 12 meses |
Nova Iorque | 57.75€ | 180,81 | 8,20 | 47,16% |
Nova Iorque | 190,69€ | 154,48 | 20,32 | 306,28% |
Paris | 47,00€ | 55,17 | 3,8 | 10,14% |
Frankfurt | 81,33€ | 50,86 | 4,81 | 51,93% |
Fonte: Bloomberg. P/L = Preço ÷ lucro de 12 meses. P/VC = Preço ÷ valor contabilístico dos capitais próprios por acção. Rendibilidade em euros. 19 de Maio de 2008.
Ainda não é hoje que vai poder fazer o registo para produzir energia e passar a vender aos outros, o conceito apelidado “renováveis na hora”. Quando se previa que o arranque fosse dado hoje, às 12 horas, o aviso que agora está na página da
Direcção-Geral de Energia e Geologia indica que será apenas no final do mês de Março que os consumidores vão poder começar a produzir energia, solar ou eólica. Se já comprou o equipamento ou está a pensar investir cerca de
18 mil euros num painel fotovoltaico – excluindo IVA a 12 por cento e despesas de deslocação – que aproveite as quase 3000 horas solares anuais em Portugal, terá de esperar que o Ministério da Economia consiga pôr em marcha o novo Sistema de Registo de Microprodução. Dionísio Henriques, responsável de energias renováveis da empresa instaladora dos equipamentos solares
Moreme, afirma que “só quem não conhece a Direcção-Geral é que não estava à espera” deste cenário.
Quem quiser tirar partido do Sol vai ter que pagar uma
taxa de 250 euros pelo registo que será feito através de um formulário electrónico no sítio da
DGEG, possuindo depois 120 dias para instalar o painel solar e conseguir que lhe seja concedido um certificado de exploração.
Terá a possibilidade de produzir electricidade à tarifa fixada pelo governo para os próximos 5 anos, 650 euros por megawatt-hora, o que pode significar uma
receita anual na ordem dos 3500 euros, ainda que a tarifa vá diminuindo conforme vá aumentando a produção. No final de 5 anos, quando já poderá ter quase
17 mil euros, o governo reverá a tarifa de energia eléctrica e a tendência será para reduzir o preço que os produtores recebem. Contudo, neste cenário, o investimento inicial deverá estar coberto no sétimo ano e, até 2023, ano em que terminaria o regime bonificado, o novo produtor-consumidor poderá ter bons resultados durante 8 anos. Além disso, tem a possibilidade de uma
dedução no IRS até 777 euros do valor do painel solar.
Nuno Alexandre Silva